Atividade física é importante aliada para garantir bem-estar psicológico; Pilates proporciona ganhos contra depressão, ansiedade e outros distúrbios
O Setembro Amarelo, mês de conscientização quanto à prevenção do suicídio, está chegando ao fim, mas sempre é tempo de falar do assunto – e da saúde mental como um todo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), foram registrados, em 2016, mais de 13 mil casos de suicídio no Brasil e 800 mil no mundo. Números que incluem cada vez mais os jovens, já que essa, hoje, é a segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos, atrás apenas dos acidentes de carro.
Segundo o site oficial do Setembro Amarelo – campanha organizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) –, cerca de 97% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias.
Considerada “o mal do século”, a depressão afeta 4,4% da população global – mais de 300 milhões de pessoas –, de acordo com a OMS. No Brasil, o índice aumenta para 5,8%, ou seja, 12 milhões de doentes. Ainda conforme a Organização, 9,3% dos brasileiros são ou estão ansiosos, o que faz do país o mais estressado da América Latina.
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS) aponta ainda que a depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma importante para a carga global de doenças.
“Ela pode causar à pessoa afetada um grande sofrimento e disfunção no trabalho, na escola ou no meio familiar. Na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio”, destaca o site da Opas.
Para piorar esse quadro, também é grande a desinformação sobre o problema, sobretudo entre jovens. Levantamento recente do Ibope, divulgado pela revista Veja, revela que 23% dos adolescentes entre 13 e 17 anos enxergam a depressão como um “momento de tristeza”, e não uma doença grave.
Além disso, 63% das pessoas disseram que, se estivessem doentes, não contariam para a família, pela vergonha de admitir um quadro depressivo.
Exercício contra depressão e ansiedade
O poder da atividade física para o bem-estar psicológico, de modo geral, já é bem estabelecido na literatura médica. No entanto, novos estudos continuam jogando luz no assunto e reforçando essa relação.
Em junho, a revista Saúde revelou um trabalho de Felipe Schuch, educador físico e doutor em Psiquiatria, junto a pacientes com depressão severa internados no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (RS). O pesquisador, em resumo, constatou que pessoas submetidas a tratamento com medicação e atividade física apresentavam melhores resultados do que aquelas que apenas tomavam remédio.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, levantamento do Instituto Black Dog com cerca de 34 mil adultos, ao longo de 11 anos, concluiu que os praticantes regulares de exercícios tinham menor probabilidade de apresentar manifestações de depressão com o passar do tempo.
“Hoje, em toda especialidade, qualquer médico vai listar uma série de benefícios das atividades esportivas. Na psiquiatria, isso se aplica à depressão”, afirma o médico Marcelo Fleck, chefe do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em entrevista à Saúde.
Outra pesquisa recente, desta vez publicada no site médico Pebmed, em julho, revela que pessoas que praticam exercícios regularmente têm menor chance de desenvolver ansiedade. Os resultados mostraram ainda que níveis mais elevados de atividades físicas protegem contra agorafobia (transtorno ligado a crises de pânico) e distúrbio pós-traumático.
Pilates, depressão e ansiedade
Também este ano, a publicação científica americana Complementary Therapies in Medicine divulgou um estudo relacionando Pilates, depressão e ansiedade. A pesquisa comparava pessoas que praticavam o método com grupos-controle nos quais os indivíduos faziam outras modalidades de exercício, ou então eram sedentários. A conclusão foi de que, entre os praticantes de Pilates, houve redução de até 81% dos sintomas de depressão e 46% dos de ansiedade.
O estudo mostrou ainda que o método reduz a fadiga (cansaço), aumenta a energia e alivia o estresse.
O Pilates é um dos métodos de condicionamento físico mais completos, pois trabalha o indivíduo como um todo, integrando não só corpo e mente, como também o espírito. Além disso, expande a consciência corporal do aluno, ou seja, faz com que ele tenha conhecimento de seu próprio corpo.
Isso acontece porque os seis princípios que regem o método – respiração, concentração, controle, precisão, centramento e fluidez – levam o praticante a prestar atenção em cada detalhe dos movimentos executados, de dentro para fora. A realização correta dos exercícios, com foco na atividade desempenhada, traz ao aluno, em primeiro lugar, ganhos em sua postura – que, certamente, foi prejudicada, caso sofra de depressão.
Ao corrigir a postura e erguer o olhar, o indivíduo deprimido “melhora o fluxo energético de seu corpo, amplia sua respiração e expande o contato visual com o mundo que o cerca, alterando sua percepção e seus pensamentos”, de acordo com o Blog Pilates.
Da mesma forma, tem a autoestima e a autoconfiança elevadas, já que resgata a sensação de “ser capaz”.
“Quando a pessoa percebe seu próprio corpo executando movimentos fortes, controlados e conscientes, numa postura esteticamente elegante, restaura sua crença em si mesmo, se sente capaz, confiante e no comando de algo que, até então, não tinha controle: seu corpo e sua mente, interrompendo o ciclo negativo e de autossabotagem”, ressalta o Blog Pilates em outro artigo.
Atendimento individualizado
Os benefícios do Pilates no tratamento da depressão, da ansiedade e de outros transtornos mentais seguem com uma característica presente não só nessa modalidade, mas em todas as atividades físicas: a liberação, para o cérebro, de endorfina e serotonina, substâncias responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar.
Mas há um aspecto no qual o método se diferencia de outras práticas: a valorização da individualidade. Em outras palavras, cada aula é planejada de modo específico e personalizado, respeitando os limites e as condições físicas do aluno, mesmo quando realizada em grupos pequenos. Aqui no Estúdio André Guzmán, por exemplo, as aulas são individuais ou, no máximo, com três alunos.
Desse modo, cria-se uma relação de confiança entre aluno e instrutor, algo fundamental para uma pessoa que sofre de algum distúrbio mental. Esse vínculo estabelecido ajuda o praticante/enfermo a vencer uma eventual resistência e a se sentir acolhido, seguro e compreendido, bem como o motiva a seguir seu tratamento.
Por outro lado, ainda que o atendimento seja individual ou em pequenos grupos, o Pilates é uma ótima oportunidade de socialização. Afinal, na hora da aula, o aluno tem que sair de casa e se deslocar até o estúdio, onde terá contato com outras pessoas.
A fisioterapeuta e instrutora de Pilates Walkíria Brunetti ressalta que esse fato é muito importante para uma pessoa em estado depressivo, uma vez que o isolamento social pode agravar os sintomas.
“Já para os estressados e ansiosos, a respiração profunda e diafragmática acaba causando um efeito muito relaxante, além da necessidade de focar no momento presente durante os exercícios. Este aspecto do Pilates ajuda a desacelerar os pensamentos, se desligar do mundo, dos problemas e, como consequência, diminui o estresse e os sintomas ansiosos”, complementa Walkíria, em entrevista ao Portal N10.
Mais benefícios para a saúde mental
Além de todos esses benefícios, o Pilates proporciona outros ganhos que ajudarão, direta ou indiretamente, no tratamento de quem já sofre de depressão, ansiedade ou outro transtorno mental. Também vão colaborar, certamente, com a prevenção desses problemas, proporcionando mais qualidade de vida para os praticantes do método.
São eles:
- Aumento da vitalidade e da disposição
- Redução da irritabilidade e do risco de outras doenças – por exemplo, osteoporose e hipertensão
- Melhora do apetite, do sono, da aparência e da condição física
- Prevenção e alívio de dores crônicas
- Ganho de resistência, tônus muscular, mobilidade articular e flexibilidade
Crédito, para que te quero
Este artigo foi escrito pela nossa equipe de redação, sob a supervisão do fisioterapeuta André Guzmán. Além das fontes citadas no texto, também consultamos os sites Revista Veja, O Regional, Blog Pilates e Revista Pilates.