No Outubro Rosa, saiba como a prática de atividade física, em especial o Pilates, beneficia pessoas em tratamento do câncer
Foi-se o tempo em que o câncer era uma sentença de morte. Hoje em dia, com os avanços científicos e os conhecimentos acerca dos benefícios da adoção de hábitos saudáveis, muitos pacientes alcançam a cura ou, pelo menos, têm maior sobrevida, com mais qualidade.
No entanto, também cresce a incidência da doença. No Brasil, apenas para o câncer de mama – tema do Outubro Rosa, movimento internacional de prevenção e conscientização sobre a neoplasia –, o Instituto Nacional de Câncer (Inca), do Rio de Janeiro, prevê 119.400 novos casos para o biênio 2018-2019. São 3.480 a mais do que o estimado pela instituição para o período 2016-2017.
Além disso, só quem passa pela doença sabe das dificuldades, das incertezas e dos medos enfrentados durante o tratamento. Também são frequentes queixas de pacientes quanto a efeitos colaterais, que envolvem, por exemplo, enjoo, cansaço e queda de cabelo, entre outros.
Na tentativa de minimizar essas reações adversas e oferecer mais qualidade de vida para o paciente oncológico, a medicina tem encontrado na atividade física uma poderosa aliada. Os exercícios ajudam não no período de quimioterapia, radioterapia ou cirurgia, mas também antes, na prevenção, e depois, evitando que a doença retorne – o que é chamado de recidiva.
Prevenção e tratamento
Pesquisas apontam que a prática de atividade física contribui para prevenir 13 tipos de câncer, entre eles o de mama, o que mais mata mulheres no Brasil. Em 2018, um estudo internacional, com participação da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que 10 mil novos casos de câncer poderiam ser evitados no país, por ano, se pacientes tivessem se exercitado anteriormente.
Em entrevista ao Jornal da Band, o mastologista Marcelo Bello, diretor do Hospital do Câncer III – unidade do Inca dedicada ao câncer de mama –, comenta outros números significativos. De acordo com o médico, cerca de 30% dos casos de morte por câncer de mama poderiam ser evitados se as pacientes praticassem atividade física, mesmo depois de diagnosticadas.
“Em linhas gerais, a gente sabe que, para outros tipos de câncer, o risco de óbito reduz em até 45%”, acrescenta.
No caso do câncer de mama, a atividade física também ajuda a evitar recidiva. Os exercícios reduzem hormônios que sobrecarregam as glândulas mamárias e favorecem o aparecimento da doença, como o estradiol. Da mesma forma, diminuem os efeitos colaterais do tratamento, a exemplo do inchaço provocado pela obstrução do sistema linfático.
Pilates no hospital de câncer
No Inca, um grupo de pesquisa multiprofissional desenvolve três projetos relacionando atividade física e câncer de mama. Os estudos têm como objetivo avaliar o impacto dos exercícios na prevenção de reações adversas do tratamento oncológico, na melhora da qualidade de vida e na redução da mortalidade entre pacientes do HC III.
Um dos projetos aborda o Pilates na redução dos efeitos colaterais da radioterapia adjuvante, feita após cirurgia, para evitar o retorno do câncer. Até o momento, foram incluídas 150 mulheres, divididas em dois grupos: um pratica Pilates duas vezes por semana, no Inca, durante a radioterapia, e o outro faz exercícios em casa, diariamente, sob orientação da equipe do hospital.
De acordo com o Inca, os pesquisadores vão comparar as reações adversas do tratamento entre os grupos, como fadiga e sintomas depressivos. Também será avaliada a funcionalidade dos membros superiores das pacientes, além da qualidade de vida.
“Nossa hipótese é que o grupo com Pilates irá apresentar redução dos efeitos colaterais e melhora da qualidade de vida. Também iremos avaliar se o grupo Pilates alterou seus hábitos de vida, tornando-se mais ativo após um ano”, explica o Instituto, em texto de divulgação enviado ao Blog do Estúdio André Guzmán.
Melhora de sintomas
Embora o período de inclusão de pacientes ainda esteja em andamento e não existam resultados parciais, os primeiros indícios já apontam melhoria da qualidade de vida das mulheres do grupo Pilates.
É o que revela, ao Jornal da Band, a fisioterapeuta Kelly Fireman:
“A gente percebe que as pacientes relatam a melhora de vários sintomas, como dor no braço e sensação de cansaço.”
A percepção dos pesquisadores é confirmada pelo depoimento da auxiliar administrativa Claudia Silva, uma das pacientes do grupo:
“Quando eu comecei a aliar o tratamento da radioterapia com o Pilates, criei mais resistência física, que antes não tinha. Eu era uma planta, essa é a verdade!”
Pilates e câncer: uma história de superação
Quem também atesta os efeitos positivos do Pilates no corpo e na mente do paciente oncológico é a paulistana Cristiane Cotelesse Morazzoni. Em 2013, aos 46 anos, depois de descobrir um câncer na mama direita, ela passou por uma mastectomia (cirurgia de retirada do órgão).
Como o diagnóstico veio na fase inicial, Cristiane, em princípio, não precisou nem de quimioterapia nem de radioterapia adjuvantes, bastando o uso de medicação oral. Após 15 dias, a paulistana começou a ter restrição de mobilidade no braço esquerdo, e seu mastologista indicou fisioterapia.
No entanto, por orientação do marido, ela procurou um estúdio de Pilates, onde ambos acabaram se matriculando.
“A alegria foi ver que os tipos de exercícios estavam de acordo com a minha necessidade. Comecei a melhorar sensivelmente. Antes, eu tinha até dificuldade de me segurar no metrô”, relata Cristiane, em entrevista ao site O 4º Poder.
“Bem-estar físico e mental”
A paulistana completa:
“Pilates é reeducação. Você tem que aprender a executar bem [os movimentos], pensando na respiração, na postura, usando o músculo corretamente. E tudo isso veio a contribuir muito, pois me deu bem-estar físico e mental.”
Depois de dois anos e meio apenas com medicamentos orais, Cristiane iniciou tratamento quimioterápico para combater uma metástase no fígado. Entre sessões mais e menos agressivas, perdeu cabelo e ficou debilitada. Mais uma vez, o Pilates a ajudou a superar as dificuldades.
“Eles [amigos e professores] criaram uma campanha no estúdio com uma hashtag, incentivando minha recuperação. E eu não desisti, mesmo durante a químio. O Pilates contribuiu para a minha recuperação e autoestima. Nessa hora, a cabeça da gente tem que estar preparada, e o Pilates ajuda sobremaneira”, avalia.
Crédito, para que te quero
Este artigo foi escrito pela nossa equipe de redação, sob a supervisão do fisioterapeuta André Guzmán.