O uso de máscara é obrigatório em várias cidades do Brasil, inclusive para a realização de exercícios físicos, tanto ao livre quanto em espaços fechados, como academias e estúdios de Pilates. Especialistas garantem que o acessório não faz mal à saúde, mas listam recomendações para uma prática ainda mais segura.
Fechados desde março em muitos locais do país, como uma das medidas para conter a disseminação do novo coronavírus, espaços destinados à prática de exercícios, a exemplo de academias de musculação e estúdios de Pilates, ioga e dança, retomam aos poucos as suas atividades. Mas é um retorno diferente: os locais precisam atender a uma série de medidas sanitárias determinadas pelos governos estaduais ou municipais.
No Rio de Janeiro, academias e estúdios foram autorizados a reabrir no dia 2 de julho. O Estúdio André Guzmán, que estava com as atividades suspensas desde 18 de março, voltou com atendimentos de fisioterapia e aulas de Pilates, seguindo todas as regras da Prefeitura dentro da Fase 3 de flexibilização da quarentena. Entre as medidas adotadas, está o uso de máscara N95 (hospitalar) e óculos de proteção pelo proprietário do espaço, o fisioterapeuta André Guzmán.
As normas, no entanto, são se restringem ao estabelecimento. Também cabe ao aluno, por exemplo, usar máscara durante toda a atividade. E é aí que surgem várias dúvidas entre os praticantes. A máscara diminui o desempenho? Prejudica a saúde? Qual o melhor tipo? Como usá-la?
A seguir, vamos responder a essas e outras perguntas, tanto para atividades físicas ao ar livre quanto indoor.
O uso de máscara em exercícios ao ar livre ou em academias e estúdios de Pilates é obrigatório?
Antes de mais nada, vamos começar com a questão legal. Sim, de modo geral, nas cidades onde esses estabelecimentos já voltaram a funcionar, o uso de máscara é obrigatório, tanto em espaços abertos quanto fechados.
No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a obrigatoriedade foi confirmada na última segunda-feira (13/7), com a regulamentação de uma lei sancionada pela Assembleia Legislativa em junho. Após um prazo de 15 dias para conscientização da população, quem descumprir será punido com multas: R$ 106,65 para pessoas físicas e R$ 700 para pessoas jurídicas.
Na cidade do Rio, o uso de máscara nas ruas, em estabelecimentos abertos ao público e nos transportes é obrigatório desde abril. A medida também está entre as “regras de ouro” determinadas pela prefeitura para a reabertura de comércio e serviços, entre eles academias e estúdios de Pilates. De acordo com o Hora 1, o mesmo vale para outras 22 capitais brasileiras, que obrigam o uso de máscara, inclusive, durante a prática de atividade física.
Vale lembrar, ainda, que o uso de máscara na pandemia é preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por outras autoridades sanitárias como uma das medidas mais importantes para evitar a propagação da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
“Não devemos sair ao ar livre sem máscara, muito menos ir a lugares fechados sem ela. Todos devem se cuidar e cuidar dos outros”, reforça a médica Ligia Bahia, especialista em saúde pública, em entrevista ao G1.
Associações médicas recomendam o uso de máscara em exercícios?
Conforme informamos em artigo anterior, esse tema é tratado com bastante clareza pela Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE). Em nota à população divulgada em junho, a entidade afirma:
“Nas localidades onde está decretada a obrigatoriedade do uso de máscara, em ambientes públicos, desde que a prática de exercícios físicos ao ar livre e/ou em academias esteja liberada pelo poder executivo, deve-se usá-la ao exercitar fora de casa, até pela necessidade de cumprimento de uma determinação legal. Portanto, se você mora numa localidade que se enquadre nesta situação, a máscara deve ser usada, tanto nas práticas esportivas ao ar livre quanto em academias.”
Em posicionamento sobre a atuação médica durante a pandemia por Covid-19, o Departamento de Ergometria, Exercício, Cardiologia Nuclear e Reabilitação Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (Derc/SBC) segue esse entendimento. No campo “atividades físicas em academias”, a SBC recomenda, entre outras medidas, a disponibilização de máscaras faciais para alunos e colaboradores em todas as áreas do estabelecimento.
Que incômodos a máscara provoca? O rendimento no exercício pode cair?
A máscara facial representa uma barreira física entre a nossa via respiratória e o ar ambiente, o que cria uma dificuldade maior para fazer troca gasosa entre oxigênio e gás carbônico. Por isso, é comum que as pessoas sintam desconforto ao usá-la durante o treino, principalmente nas primeiras vezes, explica o educador físico Alexandre Evangelista à revista Vogue.
Ainda de acordo com Evangelista, a dificuldade da troca gasosa pode acarretar maior cansaço físico, particularmente em pessoas destreinadas, mesmo durante uma simples caminhada. Outro fator que pode incomodar os menos condicionados é o fato de a máscara exigir maior esforço dos músculos respiratórios.
“Já para quem possui um bom condicionamento físico, o uso do acessório não irá interferir de maneira significativa no desempenho”, acredita o educador físico.
“O uso das máscaras é mais complicado nos exercícios aeróbicos de alta intensidade, como a corrida ou o ciclismo indoor. Na musculação, não achei tão complicado, já que há um período de descanso entre as séries”, comenta o atleta Rodrigo Sangion, também à Vogue.
Entretanto, a SBMEE alerta que o rendimento pode, sim, ser prejudicado pelo acessório. Segundo a entidade, o esforço aumentado da musculatura ventilatória leva a um maior desconforto respiratório para se realizar um mesmo nível de atividade.
A Sociedade também pontua que, de modo geral, quanto mais espesso o material da máscara, maior a dificuldade de respirar.
A OMS afirmou que, por causa do desconforto na respiração, a máscara não é para ser usada em exercícios. O que eu devo fazer?
Para a SBMEE, um ema nova nota publicada no dia 10 de julho, essa orientação é “bastante genérica” e “precisa ser visto com cautela”. Primeiramente, a entidade explica que, como a própria Organização reconhece, a situação da pandemia deve ser analisada localmente, já que pode diferir muito entre cidades, estados e países – especialmente naqueles com dimensões continentais, como o Brasil.
Em segundo lugar, a SBMEE considera que a preocupação da OMS com o desconforto respiratório – variável entre as pessoas, o tipo e a intensidade de exercício e o modelo da máscara – esteja relacionada com o fato de o acessório poder dificultar a prática e, eventualmente, até desestimulá-la.
Por fim, a Sociedade lembra que, nos locais onde o uso de máscara está decretado pelo Poder Executivo, a regra deve ser cumprida, pois recomendações emitidas por entidades como a OMS não se sobrepõem a uma determinação legal.
Para quem a máscara é mais importante?
A máscara facial não apenas reduz a disseminação do novo coronavírus, como também diminui em 65% o risco de contaminação. A afirmação, segundo a SBC, é de Dean Blumberg, chefe de doenças infecciosas pediátricas do Hospital Infantil UC Davis, nos Estados Unidos.
No entanto, embora seja importante para toda a população, a máscara tem relevância ainda maior para cardiopatas, que fazem parte do grupo de risco para a Covid-19.
“Nesse período de pandemia, ficou muito claro que quem tem doença cardíaca tem chance muito maior de evoluir mal quando infectado pelo coronavírus. Isso aumenta a necessidade de essas pessoas utilizarem a máscara”, ressalta a cardiologista e médica do esporte Renata Castro, em entrevista à Agência Brasil.
A especialista acrescenta que o uso do acessório, durante os exercícios, eleva o esforço do praticante. Mas isso não significa mais riscos para o indivíduo, seja cardiopata ou não. Ao contrário: atividade física traz benefícios para todos, especialmente os cardíacos.
“Melhora o prognóstico de pessoas com doença cardíaca, desde que elas sejam bem orientadas. Isso quer dizer que existem pessoas com doenças que precisam primeiro ser controladas ou tratadas, para depois ficarem livres para fazer atividade física”, observa a médica.
Ainda sobre as máscaras, Castro revela, desta vez ao iG, que a proteção vai além da Covid-19 e das doenças cardíacas. O equipamento, de acordo com a médica, pode ser útil na redução das crises de asma e broncoespasmo induzidas pelo exercício.
“Estamos no inverno e, dependendo da hora e do local em que você pratica exercício, o ar é bastante frio. A inalação do ar frio pode desencadear uma reação dos brônquios, dificultando a passagem do ar. Estudos conduzidos antes da pandemia revelaram que o uso de máscaras de tecido e uma echarpe ou cachecol na frente do nariz e da boca aquecem o ar inspirado e reduzem essas reações”, detalha.
O uso de máscara em exercícios é perigoso para a saúde, pelo fato de inalarmos o gás carbônico da expiração? É verdade que isso causa acidose (acidez no sangue)?
Na nota de junho, a SBMEE explicou que “não há consistência na hipótese de que, com a máscara, se ‘retém CO2’ e que esta suposta retenção e sua consequente reinalação traria riscos à saúde do usuário praticando exercícios”.
“Embora a máscara seja uma relativa barreira para a respiração, a permuta de gases inspiratórios e expiratórios ocorre, com uma eventual retenção de CO2, entre ela e o rosto, sendo pequena e insuficiente para provocar um desequilíbrio importante no processo de trocas gasosas pulmonares. Em resumo, a máscara pode trazer certo desconforto respiratório e relativa perda de rendimento (…), mas não coloca em risco a saúde do usuário que deseja praticar exercícios físicos”, acrescenta o texto.
Já no comunicado de julho, a entidade reconhece que a dificuldade respiratória provocada pelo uso de máscara pode levar a certas alterações fisiológicas, o que também causaria fadiga precoce. Entretanto, esses sintomas são mais evidentes em exercícios com mais de uma hora de duração e em alta intensidade.
A SBMEE também confirma que, em máscaras úmidas, pode ocorrer o crescimento de microrganismos. Mas lembra que essa possibilidade é maior em equipamentos reutilizáveis e com higienização inadequada.
Para refutar de vez os possíveis malefícios das máscaras à saúde, a Sociedade cita estudos que mostram um efeito benéfico sobre a musculatura respiratória. O maior esforço provocado pelo acessório melhoraria a força e a resistência dos músculos, levando a uma maior eficiência ventilatória.
É verdade que a máscara pode provocar aumento importante da temperatura corporal, mesmo em intensidades moderadas de treino aeróbio?
Segundo a nota mais recente da SBMEE, o aumento significativo da temperatura corporal, chamado hipertemia, pode ser potencializado pelo exercício físico, especialmente por fatores como intensidade e volume de treino. Também contribuem para esse fenômeno as condições do meio, como temperatura e umidade do ar elevadas, que dificultam a perda de calor interno para o ambiente, via evaporação do suor.
Ainda de acordo com a Sociedade, embora as pesquisas sobre o tema apontem que há um “óbvio prejuízo” dessa troca térmica na região da face coberta pela máscara, seus efeitos são insignificantes para a maioria dos praticantes de exercício. Isso porque a superfície afetada é proporcionalmente pequena.
A única situação que requer maior cuidado, acrescenta a SBMEE, é do praticante que usa roupas protetoras “selantes”. Nesse caso, a cobertura de grande superfície do corpo vai naturalmente dificultar o processo de controle térmico corporal.
Como reduzir os desconfortos com a máscara nos exercícios?
Segundo a própria OMS, o suor, exacerbado pelo exercício, molha mais rapidamente a máscara. Úmida, ela não só perde sua ação protetora, como também cria maior resistência ao fluxo de ar, dificultando ainda mais a respiração e exigindo mais esforço do praticante.
A fim de diminuir os incômodos, a primeira dica é usar um acessório confortável, que se ajuste bem ao seu rosto. O ideal é que não haja muitas sobras ou pressão em determinadas áreas.
“As máscaras indicadas para a prática de exercícios devem permitir a ventilação adequada e ficar confortáveis. Antes de sair correndo para estrear sua máscara nova, faça um teste em casa. Se não estiver confortável em repouso, ela não é a máscara ideal para você praticar exercícios”, orienta Castro.
Outra recomendação importante é reduzir a intensidade dos treinos. Para o ortopedista e médico do esporte Sérgio Maurício, o ideal é manter um ritmo leve a moderado em atividades aeróbicas, como corrida, ciclismo e caminhada.
“Sugiro que, neste momento, o atleta use a percepção de esforço, em vez do monitor cardíaco, para controlar a intensidade do treino, já que a máscara é um fator limitante e pode alterar os batimentos cardíacos”, indica Maurício, em entrevista ao UOL.
Já em exercícios predominantemente anaeróbicos, como musculação e Pilates, uma boa opção para dosar a intensidade, sem precisar diminuir tanto a carga, é aumentar o tempo de descanso entre as séries.
Também ao UOL, o pneumologista Franco Martins alerta que, independentemente da atividade, é importante prestar atenção aos sinais do corpo durante o exercício.
“Se o atleta começar a sentir sonolência, redução da concentração ou fadiga e falta de ar excessiva, deve interromper o treino”, observa.
Quando e como devo trocar a máscara?
Conforme comentado anteriormente, a máscara perde efetividade quando úmida. Por isso, Evangelista recomenda que seja trocada a cada 20 minutos, independentemente do tipo de material e da atividade exercida.
Essa também é a opinião do médico do esporte Pablius Staduto Braga. Ao Jornal da Record News, o especialista recomenda que o praticante tenha um acessório reserva.
“É essencial que ela seja trocada e usada sempre seca”, frisa.
A troca exige cuidado: a máscara deve ser retirada pelos elásticos laterais e imediatamente colocada num saco de plástico. A cada mudança, as mãos precisam ser higienizadas com álcool em gel 70%.
Por isso, e também para o caso de manuseio incorreto, é importante levar, para o local do exercício, no mínimo duas ou três máscaras.
Existem máscaras próprias para treinos?
A SBMEE responde a essa questão lembrando, antes de mais nada, que máscaras foram feitas para proteção, e não para fazer exercícios.
“Portanto, embora causando potenciais desconfortos e dificuldades, seu uso traz um efeito protetor cientificamente reconhecido”, destaca a nota de julho.
Quanto aos tipos, a Sociedade esclarece que as empresas ainda estão procurando materiais e modelagens que possam ser bem aceitos pelos praticantes de exercícios físicos. Enquanto ocorrem os testes, o mais importante é o usuário encontrar uma máscara com a qual se adapte adequadamente e que tenha “o melhor equilíbrio entre proteção (filtragem) e respirabilidade”.
Veja os prós e contras da SBMEE sobre alguns tipos disponíveis no mercado:
- Máscaras muito finas: geralmente, facilitam a respiração, mas seu efeito protetor tende a ser mais baixo.
- Máscaras de TNT: testes apontam que os modelos de qualidade têm boa filtragem e respirabilidade. No entanto, esse tipo de máscara é descartável e, portanto, não pode ser reutilizado.
- Máscaras de neoprene: têm a vantagem de serem laváveis e impermeáveis, além de oferecerem boa proteção. Mas possuem um nível de respirabilidade comparativamente bem mais baixo que outros modelos.
- Máscaras de algodão: são laváveis, mas molham com mais facilidade durante o exercício. Também têm índices de proteção mais baixos que os modelos anteriores, além de respirabilidade menor que as de TNT, dependendo de suas camadas e de sua espessura.
- Máscaras hospitalares (como a N95): possuem o maior poder de filtragem, mas com respirabilidade também considerada baixa.
8 dicas para retomar as atividades na academia ou no estúdio de Pilates
Para encerrar, confira oito dicas para quem está retomando a prática de exercícios em academias, estúdios de Pilates e outros lugares fechados. As orientações são do site Metrópoles, por meio da infectologista Ana Helena Germoglio, do Hospital Águas Claras, em Brasília (DF), e do UOL.
- Agende seu horário.
- Não faça atividades em grupo.
- Higienize os aparelhos após o uso.
- Utilize álcool em gel durante a permanência no estabelecimento.
- Use bebedouro apenas para encher a garrafinha de água.
- Leve duas ou mais máscaras de proteção facial para trocar quando a sua umedecer.
- Não toque a boca, o nariz e os olhos.
- Não saia de casa se tiver algum sintoma de Covid-19, como febre, tosse, coriza, falta de ar, dor de garganta, perda de olfato e diarreia.
Crédito, para que te quero
Este artigo foi escrito pela nossa equipe de redação, sob a supervisão do fisioterapeuta André Guzmán.