Em meio ao Novembro Azul, saiba como a atividade física – em especial, o Pilates – pode ajudar não só a prevenir o câncer de próstata, como também auxiliar o tratamento de homens que enfrentam a doença.

Após o Outubro Rosa, mês de conscientização sobre o câncer de mama – e, por extensão, sobre a saúde feminina –, chega o Novembro Azul. Com ele, é hora de falar do câncer de próstata – tipo mais incidente entre os homens, depois do câncer de pele não melanoma – e da saúde masculina.

Para o triênio 2020-2022, estão previstos 65.840 novos casos de câncer de próstata por ano. A estimativa é do Instituto Nacional de Câncer (Inca), que também calcula em cerca de 16 mil o número de mortes por esse tipo da doença, no Brasil, em 2019.

Ainda de acordo com o Instituto, tumores malignos de próstata representam 29,2% dos diagnósticos de câncer em homens no país. Mais do que qualquer outro tipo, esse é considerado um câncer da terceira idade. Afinal, segundo o Inca, cerca de 75% dos casos ocorrem a partir dos 65 anos.

Além da idade, os outros fatores de risco são: histórico de câncer de próstata na família antes dos 60 anos, sobrepeso e obesidade.

O que é a próstata?

A próstata é uma glândula masculina localizada na frente do reto e abaixo da bexiga. Ela envolve a parte superior da uretra, que é o canal por onde passa a urina. Conforme explica a cartilha “Câncer de próstata: vamos falar sobre isso?”, do Inca, a glândula não tem relação com questões como ereção ou orgasmo. Sua função é produzir um líquido que compõe parte do sêmen, responsável por nutrir e proteger os espermatozoides.

Em homens jovens, a próstata tem o tamanho de uma ameixa. Mas, com o avançar da idade, a glândula vai ficando maior.

A cartilha do Inca esclarece que o câncer de próstata, na maioria dos casos, cresce de forma lenta. Assim, não chega a dar sinais durante a vida, nem a ameaçar a saúde do homem. Em outros casos, entretanto, o tumor pode crescer rapidamente, se espalhar para outros órgãos e causar a morte.

Na fase inicial, o câncer de próstata pode não apresentar sintomas. Quando isso acontece, porém, os mais comuns estão ligados ao ato de urinar. Pode haver demora em começar e terminar, diminuição do jato, necessidade de ir muitas vezes ao banheiro e presença de sangue na urina, por exemplo.

Atividade física como prevenção

A relação entre atividade física e câncer é clara na cartilha do Inca. No tópico sobre prevenção dos tumores de próstata, a publicação lembra que adotar práticas saudáveis de vida, como a atividade física, diminui o risco não só de câncer, como também de várias outras doenças.

O pesquisador Leandro Rezende, da Universidade de São Paulo (USP), trata do tema em sua tese de doutorado. Ele afirma que a redução de todos os fatores de risco para o câncer – falta de atividade física, alimentação não saudável, excesso de peso, tabagismo e consumo de álcool – poderia prevenir até 27% de todos os casos da doença. Da mesma forma, 34% de todas as mortes por câncer no Brasil poderiam ser evitadas.

No mundo, o panorama é semelhante. De acordo com o artigo “Atividade física na prevenção e sobrevivência do câncer: uma revisão sistemática”, publicado em 2019 no periódico Medicine & Science in Sports & Exercise, pessoas que se exercitam têm até 20% menos risco de desenvolver variados tipos da doença.

Para homens que já enfrentam o câncer de próstata, a chance de uma forma agressiva é 86% menor naqueles que caminham de uma a três horas por semana. Nesse mesmo período, três ou mais horas de exercícios físicos vigorosos reduzem o risco de morte por câncer de próstata em 61%. As informações são da organização não governamental americana Zero – O Fim do Câncer de Próstata.

Exercícios são seguros para pacientes oncológicos

A ONG acrescenta que atividade física é um fator crítico para a saúde da próstata, tanto no combate ao câncer quanto na prevenção da recorrência, pois melhora a saúde física e emocional do paciente oncológico. Além disso, é importante para controlar o peso, manter a força muscular e óssea e ajudar com os potenciais efeitos colaterais do tratamento.

De acordo com o Colégio Americano de Cardiologia, os exercícios também ajudam a proteger contra doenças cardíacas, às quais as pessoas que têm ou já tiveram câncer de próstata estão sujeitas. Para elas, o risco cardiovascular é aumentado pela hormonioterapia, ou terapia de privação androgênica (ADT, na sigla em inglês). Um dos principais tratamentos para esse tipo de câncer, a ADT consiste na redução dos níveis de testosterona no sangue por meio de medicamentos.

Exercícios também são indicados para pessoas que fazem a chamada “vigilância ativa”, ou seja, monitoram o câncer de perto com exames. Em entrevista para o site Livestrong, o médico Mohamad Allaf garante: não há razão para evitar exercícios se você tem câncer de próstata. Basta realizá-los com segurança, sem exageros.

“O exercício, em todas as suas formas, geralmente é bom em todas as fases do câncer de próstata”, afirma Allaf. Ele, que é vice-presidente executivo do Departamento de Urologia da Johns Hopkins Medicine, nos Estados Unidos, acrescenta que a maioria das pessoas pode realizar algum tipo de atividade física, embora determinados pacientes – os que passaram por cirurgia, por exemplo – precisem ir mais devagar que outros.

4 benefícios da atividade física no câncer de próstata

Para a população adulta em geral, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prática de, no mínimo, 150 minutos de atividade física aeróbica, em intensidade moderada, ou 75 minutos, de forma vigorosa, por semana. Além disso, pelo menos duas vezes nesse mesmo período, devem ser incluídas atividades de fortalecimento muscular.

No caso do paciente oncológico, especialistas orientam que, antes de mais nada, o médico que o acompanha seja consultado sobre os exercícios. Também é fundamental que o treino seja adaptado às necessidade do enfermo e prescrito por um profissional capacitado.

Entre os benefícios da prática regular de atividade física, aponta a OMS, estão exatamente a prevenção e o controle do câncer e de doenças cardiovasculares. Para pacientes em tratamento do câncer de próstata, o site Livestrong cita outras quatro vantagens, com base em depoimentos de profissionais de saúde e pesquisas:

Menos efeitos colaterais da cirurgia

A cirurgia para retirada da próstata, chamada prostatectomia, é feita por laparoscopia, com um pequeno corte no abdômen. Portanto, quanto mais forte o core (musculatura da região central do corpo, responsável pelo equilíbrio) do paciente, mais mobilidade ele terá após o procedimento.

Assoalho pélvico mais forte

Os exercícios ajudam a fortalecer o assoalho pélvico, que pode ficar mais fraco após a radioterapia e a prostatectomia. Além disso, segundo uma pesquisa polonesa, o treinamento dos músculos da região ajuda a tratar a incontinência urinária que pode surgir após a operação.

Mais massa óssea

Exercícios de resistência de alta intensidade podem melhorar a massa óssea em pessoas que recebem hormonioterapia. A constatação é de outro estudo publicado no Medicine & Science in Sports & Exercise.

Melhor humor

A atividade física ajuda a aliviar alguns dos sentimentos de depressão que podem estar associados ao câncer de próstata, bem como a outros tipos da doença. É o que informa uma pesquisa divulgada na publicação científica Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention.

Pilates: um dos melhores exercícios para quem enfrenta o câncer de próstata

Sempre com base em depoimentos de especialistas e estudos científicos, a reportagem do site Livestrong também cita os melhores treinos para pacientes em tratamento do câncer de próstata. São 12 atividades, divididas em três categorias: aeróbicas (cárdio), de força e de alongamento. O Pilates está nesta última, cujos exercícios “podem ser particularmente bons para pessoas que estão em tratamento contra o câncer”, conforme destaca Cris Dobrosielski, consultor do Conselho Americano de Exercícios.

Ainda de acordo com Dobrosielski, por passarem muito tempo sentados ou deitados, pacientes oncológicos costumam sofrer de tensão muscular, com enrijecimento ou encurtamento dos músculos. Portanto, ele acrescenta, treinos de Pilates, entre outras atividades, ajudam a “alongar os músculos, abrir as articulações e melhorar os níveis de conforto”.

Em artigo para o site Eu Atleta sobre o poder dos exercícios físicos na prevenção do câncer de próstata, a fisioterapeuta Mariana Maestrello Ferreira também ressalta o alongamento como característica marcante do Pilates. Mas ela vai um pouco além, citando outras vantagens do método criado pelo alemão Joseph Pilates há mais de 100 anos.

“O Pilates, como atividade física, é uma modalidade completa, que trabalha força muscular, equilíbrio, concentração e alongamento, além de oferecer exercício com baixo impacto para as articulações. Com tantos benefícios, o Pilates possui diversos níveis de dificuldade, conseguindo evoluir de acordo com o desenvolvimento do aluno, podendo se tornar uma prática dinâmica e desafiadora”, enumera Mariana.

Pilates na prevenção do câncer de próstata

O médico Ahmed Zayed escreve sobre saúde masculina para o site Ben’s Natural Health, empresa britânica de suplementos clínicos para doenças da próstata, entre outras. No artigo “Pilates pode ajudar a prevenir o câncer de próstata?”, ele diz que, embora essa associação específica ainda não tenha sido comprovada, o exercício, de modo geral, ajuda a manter o peso corporal normal e diminuir a probabilidade de desenvolver a neoplasia.

“O Pilates está aqui para regular o peso corporal, uma vez que a obesidade pode aumentar o risco de câncer”, observa o médico. Ele acrescenta: “Também pode estabilizar os níveis de hormônio e acelerar a digestão. Além disso, o Pilates pode fortalecer a pelve e enrijecer os músculos.”

No tópico “Quão úteis são os exercícios de Pilates na prevenção do câncer de próstata?”, Zayed diz que não há uma estimativa exata, “mas a ativação dos músculos profundos da pelve pode diminuir a possibilidade [da doença]”. O médico reforça que, mesmo sem um método que garanta ficar livre da neoplasia, mudar o estilo de vida é a principal estratégia a fim de reduzir a probabilidade de que ela ocorra.

Zayed conclui o artigo abordando a importância da atividade física para pacientes com câncer de próstata e sobreviventes – ou seja, após a doença. Segundo ele, “apesar das pesquisas limitadas, parece que se exercitar com um instrutor de Pilates traz benefícios suficientes para ajudar quem precisa trabalhar a consciência corporal e os desequilíbrios musculares”.

Pilates durante e após o câncer de próstata

Além de todos os aspectos que citamos anteriormente, as terapias contra o câncer de próstata, sobretudo as que envolvem radiação (radioterapia) e hormônios (hormonioterapia ou terapia de privação androgênica), podem trazer outros três efeitos negativos: fadiga, perda de massa muscular e queda da imunidade. Conforme destaca a educadora física Júlia Ribeiro, em artigo para o Blog Pilates, o método pode ajudar o paciente com câncer de próstata a reduzir esses incômodos. Isso porque o Pilates:

  • Fortalece a musculatura do corpo
  • Melhora o sistema imunológico e as atividades funcionais
  • Reduz a fadiga e os níveis de depressão
  • Proporciona bem-estar
  • Aumenta a qualidade de vida

Também em artigo para o Blog Pilates, o fisioterapeuta Keyner Luiz afirma que “certamente” a atividade deve ser usada em pacientes com câncer de próstata. Ele define o Pilates como “um método de condicionamento físico extremamente eficiente, que auxilia no fortalecimento do corpo, na manutenção da massa muscular e na melhora na resistência física”.

Além disso, complementa Luiz, exercícios de Pilates para fortalecimento do assoalho pélvico ajudam a controlar a incontinência urinária e a disfunção erétil decorrentes do tratamento do câncer de próstata.

Crédito, para que te quero

Este artigo foi escrito pela nossa equipe de redação, sob a supervisão do fisioterapeuta André Guzmán.

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