Pilates e outros tipos de exercício ajudam não só a evitar o câncer, como também favorecem o paciente que enfrenta a doença. É o que confirma uma nova pesquisa da USP lançada esta semana, no final do Outubro Rosa e às vésperas do Novembro Azul. Confira o que dizem outros estudos recentes e profissionais de saúde sobre a importância de se manter ativo fisicamente para evitar ou tratar o câncer.
Os penúltimos meses do ano são dedicados à conscientização para o controle dos cânceres de mama, no Outubro Rosa, e de próstata, no Novembro Azul. À exceção do câncer de pele não melanoma, são os dois mais incidentes tipos da doença no Brasil, seguidos pelo de cólon e reto.
Conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca), em cada ano do triênio 2020-2022, as três neoplasias, juntas, responderão por 173 mil novos casos da doença. Trata-se, portanto, de mais de um terço do total previsto para o país: 450 mil por ano, sem incluir o câncer de pele não melanoma.
Diversos estudos científicos apontam a prática de atividade física como uma das melhores formas de se manter saudável. Mas engana-se quem pensa que é necessário ser adepto de exercícios intensos, como corrida ou pedalada, para reduzir o risco de adoecer. Quando o assunto é prevenção do câncer, uma curta caminhada ou a realização de tarefas domésticas já têm efeito protetor.
Sedentarismo aumenta em mais da metade chance de morrer de câncer
Um estudo americano mostra que 30 minutos de exercício de intensidade moderada a vigorosa por dia reduziram o risco de morte por câncer em 31%. Até mesmo atividades de baixa intensidade – por exemplo, caminhar, cozinhar, fazer compras e jardinar –, praticados diariamente durante meia hora, foram suficientes para diminuir esse risco – neste caso, em 8%.
O trabalho, feito com mais de 30 mil pessoas, foi publicado em junho no periódico Jama Oncology. A médica Susan Gilchrist, autora principal, comenta os resultados em entrevista ao site Medscape. Segundo ela, o achado de sua equipe dá esperanças para quem não consegue realizar atividades mais vigorosas, como correr ou andar de bicicleta.
“É uma boa notícia para pessoas com estilos de vida sedentários e para os médicos que tentam ajudá-las”, avalia a médica. Ela recomenda aos seus pacientes andar 10 minutos em casa ou simplesmente ir até a caixa de correio e voltar.
Os pesquisadores observaram ainda que os participantes do estudo que passaram a maior parte do tempo inativos tiveram probabilidade 52% maior de morrer de câncer. Em indivíduos que permaneceram inativos por períodos mais longos, esse índice chegou a 61%.
Além disso, para cada hora que os investigados passaram sem se movimentar, o risco de morte por câncer aumentou 16%.
Exercícios aeróbicos e de força reduzem risco de dois tipos de câncer
Outro estudo publicado em junho revela bons resultados da associação entre exercícios de força muscular, como o Pilates, e atividades aeróbicas. Essa dobradinha poderia reduzir a incidência de pelo menos dois tipos de tumor: de bexiga e rim.
A pesquisa é uma parceria da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Também participam profissionais da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Os investigadores observaram, entre os voluntários, redução de 20% e 23%, respectivamente, no risco de tumores malignos de bexiga e rim para cada hora de aumento de exercício de força muscular semanal. Aqueles que realizaram essa atividade combinada com treinamentos físicos aeróbicos tiveram, ainda, maior redução no risco de câncer de rim, em comparação com os que fizeram apenas exercício de força muscular.
Participaram da pesquisa 30 mil profissionais de saúde, acompanhados entre 1992 e 2014.
“Nossos dados ressaltam a importância da atividade física, aeróbica e de força muscular, na prevenção da doença”, frisa Leandro Rezende, pesquisador da USP e primeiro autor do trabalho, em entrevista ao site OncoNews.
Maioria dos pacientes oncológicos não se exercita regularmente
Atividade física é fundamental não apenas na prevenção do câncer, como também para quem enfrenta a doença e após a alta, para evitar recidiva. Em 2019, diretrizes do Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM, na sigla em inglês) orientavam que pacientes oncológicos, em tratamento ou em recuperação, se exercitassem, pelo menos, três vezes por semana.
Em artigo para o site Pebmed, o oncologista Gilberto Amorim lembra que, embora a ACMS recomende, desde 2010, que pessoas com câncer pratiquem exercícios, a maioria não é fisicamente ativa de forma regular. De acordo com o médico, mais de 2.500 estudos randomizados sobre treinamentos físicos para pacientes oncológicos, publicados entre 2010 e 2018, apontam que atividades aeróbicas, sozinhas ou combinadas com treinos de resistência, trazem uma série de melhorias.
Os benefícios incluem a melhora de sintomas de ansiedade e depressão, da saúde óssea, da função cognitiva, da fadiga, do sono, da tolerância ao tratamento e da atividade sexual.
Além disso, a prática de exercício reduz a dor, as náuseas e o risco de cardiotoxicidade, de quedas e de linfedema.
“Ou seja, traz uma melhora na qualidade de vida em geral”, resume o especialista.
Gilberto Amorim acrescenta que a grande maioria dos pacientes pode iniciar exercícios aeróbicos de baixa intensidade, como caminhar ou andar de bicicleta, sem maiores dificuldades.
Exercício reverte perda muscular decorrente do câncer
Os benefícios da prática de exercícios para o paciente oncológico são corroborados por estudos recentes. Em um deles, um grupo internacional de pesquisadores, a partir de um trabalho com ratos inoculados com células tumorais, concluiu que o treinamento regular de atividades aeróbicas melhorou a capacidade física, reverteu a perda de massa muscular e normalizou a função contrátil do músculo.
Em entrevista à Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o educador físico Christiano Alves, um dos autores do estudo, explica que pacientes oncológicos tendem a apresentar atrofia muscular, a chamada caquexia do câncer. Isso acontece porque, para o tumor se desenvolver, precisa interagir com o organismo, e o músculo esquelético pode se tornar uma fonte de reserva de energia.
Na pesquisa, a comparação em modelo experimental de ratos com câncer e caquexia severa mostrou que os animais com tumores e que realizaram treinamento físico – semelhante à corrida e à caminhada em esteiras adaptadas – apresentaram sobrevida 30% maior do que aqueles com caquexia do câncer que permaneceram sedentários.
“Ao analisar o músculo isoladamente, observamos que o treinamento físico reduziu o estresse oxidativo e melhorou as funções do músculo esquelético, como a capacidade de contração”, destaca o pesquisador.
“Nosso estudo não buscou um fármaco, pois sabemos que o exercício físico pode trazer várias mudanças e benefícios, inclusive um estilo de vida mais saudável, e configura uma terapia de baixo custo”, complementa outra integrante do grupo, Patricia Chakur Brum, professora de Fisiologia do Exercício da USP.
O trabalho, apoiado pela Fapesp, foi publicado em setembro na revista Molecular Metabolism.
Efeitos positivos do exercício no coração
Esta semana, a divulgação de um novo estudo da USP, publicado em setembro no periódico Life Sciences, confirmou os achados da pesquisa anterior quanto aos efeitos positivos do treinamento físico na reversão da perda de massa muscular decorrente do tratamento oncológico.
Mas a nova investigação foi além: também utilizando um modelo com animais (camundongos com câncer de cólon), os pesquisadores atestaram o potencial cardioprotetor do exercício.
Conforme destaca o Jornal da USP, as doenças cardíacas estão entre as principais causas de morte em pacientes oncológicos. As terapias contra o câncer causam efeitos cardiotóxicos no enfermo, levando a alterações no coração – imediatas ou em longo prazo – que comprometem o tratamento.
Mas essas consequências não surgem apenas por causa da quimioterapia ou da radioterapia. No modelo experimental usado pelos pesquisadores da USP, foram constatados efeitos nocivos do tumor no coração dos animais antes mesmo do início do tratamento.
“Não esperávamos alterações tão evidentes. Foi aí que nós entramos com o ‘remédio para todos os males’: o exercício físico”, comenta a educadora física Larissa Gonçalves Fernandes, autora principal do estudo, em entrevista ao programa de rádio Jornal da USP no Ar.
Vantagens em todas as etapas da doença
Os primeiros achados, nos animais com câncer, indicaram fibrose, com grande aumento de colágeno, e inflamação no tecido cardíaco. Os pesquisadores também constataram alterações funcionais no coração, uma vez que o órgão não estava bombeando adequadamente o sangue para o resto do organismo.
No grupo de camundongos que se manteve ativo, o exercício reduziu o crescimento tumoral e atenuou a fibrose e a inflamação do tecido cardíaco. Ademais, diminuiu o chamado remodelamento patológico do coração, caracterizado por mudanças no tamanho, na massa, na geometria e no funcionamento do órgão.
“O nosso estudo aponta que o treinamento físico é cardioprotetor. Vimos um impacto [positivo] muito grande no tecido cardíaco dos animais, protegendo o coração das ameaças do tumor”, afirma Larissa.
Ela acrescenta que o exercício se mostrou benéfico mesmo em animais em estágio avançado do câncer, já com caquexia e atrofia cardíaca. Alterações que, reforça a pesquisadora, limitam ainda mais o tratamento oncológico.
“Com a aprovação do oncologista e o acompanhamento da equipe multidisciplinar, o paciente, após o diagnóstico, já pode iniciar sessões de exercício durante a semana. Nós recomendamos fortemente, pensando na proteção cardíaca, durante o tratamento. Mas o efeito benéfico é para o organismo em geral. Quem já tem esse estilo de vida ativo está metabolicamente mais protegido”, assegura.
Pilates e câncer: método reduz sintomas do paciente
Para o paciente, o Pilates é um dos métodos mais aconselháveis a fim de prevenir ou amenizar sinais e sintomas decorrentes do tratamento de câncer. Isso acontece porque a atividade trabalha todo o organismo: corpo e mente.
A afirmação é da fisioterapeuta e instrutora de Pilates Hellen Lunardi, em artigo para o jornal Diário do Sudeste. Conforme a profissional, além de amenizar os efeitos adversos das terapias agressivas contra o câncer, o Pilates reduz o risco de reincidência da doença, proporcionando uma mudança corporal por meio do movimento.
Ainda de acordo com Hellen, sintomas e sentimentos negativos são diminuídos com a prática da atividade. Entre eles, a fisioterapeuta destaca baixa de autoestima e resistência cardiopulmonar, dor no corpo e falta de concentração.
“Essa modalidade de exercícios vem para melhorar as atividades de vida diária, deixando os pacientes com sensação de ânimo e, consequentemente, encarando da melhor forma essa fase difícil pela qual estão passando”, garante.
A fisioterapeuta também pontua que os exercícios elaborados pelo instrutor de Pilates têm como objetivos o relaxamento e o fortalecimento musculares, bem como o alongamento e a consciência corporais. Para isso, são utilizados os seis princípios da Contrologia, a saber: concentração, centralização, respiração, controle, precisão e fluidez.
Hellen afirma ainda que qualquer paciente com câncer pode praticar Pilates. Basta pedir uma liberação médica e apresentá-la ao instrutor do método.
6 benefícios do Pilates para o paciente com câncer
Confira alguns benefícios do Pilates para o paciente em tratamento do câncer, listados pela fisioterapeuta e instrutora Hellen Lunardi:
- Aumento da força muscular
- Melhora da autoestima
- Reeducação postural
- Melhora do alongamento e da flexibilidade muscular
- Melhora do equilíbrio
- Aumento da resistência cardiopulmonar
Crédito, para que te quero
Este artigo foi escrito pela nossa equipe de redação, sob a supervisão do fisioterapeuta André Guzmán.